domingo, 19 de agosto de 2007

Resenha Crítica - CÃO SEM DONO

Fonte do cartaz: http://cinerosebudd.files.wordpress.com

Título: Cão Sem Dono
País de Origem: Brasil
Produção: Bianca Villar
Distribuição: Downtown Filmes
Diretor: Beto Brant e Renato Ciasca
Roteiro: Marçal Aquino, Beto Brant e Renato Ciasca - adaptado do livro "Até O Dia Em Que O Cão Morreu", de Daniel Galera
Data de estréia: 11/05/2007


Elenco:
JULIO ANDRADE (Ciro),
TAINÁ MÜLLER (Marcela),
LUIZ CARLOS V. COELHO (Elomar),
MARCOS CONTRERAS (Lárcio),
JANAÍNA KREMER (Ana),
ROBERTO OLIVEIRA (Pai),
SANDRA POSSANI (Mãe),
CHURRAS, o Cachorro



Fonte: http://www.caosemdonopoa.com

Julinho Andrade e Churras


A vida nos prega muitas peripécias... planos podem ser alterados, estilos podem ser mudados... mas será que poderíamos passar a vida sem alguém do lado, feito um "cão sem dono"? Esta foi a pergunta que mais me fiz durante todos os 82 minutos do novo filme de Beto Brant.


Tudo começa com o jovem Ciro. recém-formado em Literatura, enfrenta a barra de não conseguir um emprego como tradutor. Um belo dia, um cachorro o segue até em casa, e se torna seu companheiro.


E assim, ele vai levando a vida, encontrando trabalhos esporádicos (hoje em dia, a realidade editorial é bem difícil, não é qualquer um que consegue um trabalho fixo como tradutor regular) e se mantendo com a ajuda dos pais. Sem vínculos e sem crenças. Até o dia em que tudo muda...


Um belo dia, ele conhece Marcela, uma ambiciosa modelo em início de carreira e o que seria só uma noite acaba por se tornar uma enorme releitura de conceitos. Logo Ciro não quer mais ficar só. Logo quer conhecer os amigos de Marcela. Logo quer ficar junto dela sempre. Mas será que duas pessoas de objetivos de vida tão diferentes conseguem se manter juntos?


Apesar do título, Churras (o cachorro que - detalhe - não tem nome até o fim do filme) está longe de ser um grande destaque do filme. Ele mal aparece no filme todo e nem é citado a maior parte do tempo. O filme gira todo em torno de Ciro. Ele que é o "Cão Sem Dono" do filme. Até Marcela aparecer, frise-se bem. Quando Marcela some (ih, lá vou eu contando mais do que devo...), ele logo se percebe irremediavelmente perdido, sem uma "guia".


depois de um tempo matutando bastante o que se vê, a gente percebe que o filme deveria ser arrastado, mesmo. A sacada mais inteligente dele é justamente esta: o arrastado do tempo serve para refletirmos e vermos o quanto Ciro (não seríamos nós todos) é apático e passivo com relação à vida. O filme inteiro segue, e ele não faz realmente NADA pela sua vida, a não ser esperar pelas ações alheias, sem realmente reagir a elas. E todos à sua volta, de um modo ou de outro, se recusam a ser seus satélites (exceção feita, talvez, a Churras). Exatamente como na vida real.


Fonte: http://www.museu.ufrgs.br

Tainá Müller e Júlio Andrade


O elenco é muito bem trabalhado, e Beto Brant (que já havia nos presenteado antes deste filme com "O Invasor") faz um trabalho duro e seco, pessimista, mesmo. Em especial, Tainá Müller e o cachorro Churras brilham (ninguém consegue tirar os olhos dos dois nas cenas em que eles aparecem).O au-au deve ter tido um treinador maravilhoso. Já a Marcela de Müller tem várias nuances bem trabalhadas pela atriz por trás da sua belíssima estampa.


Não li o conto de onde foi tirado o roteiro, mas pelo que pude encontrar na internet, é um texto em primeira pessoa - Ciro deve ser o narrador - e reflexivo, coisa que não dá para se fazer em cinema, a não ser que se use aquelas soluções-chave (sessão de psicanálise, ator falando consigo mesmo ou com a câmera)... Beto Brant optou por uma melhor saída: trazer o espectador PRO LADO de Ciro e deixar que cada um tire suas próprias conclusões através da própria reflexão. Gênio.


Ao final agridoce, vemos sinais de mudança, mas nenhum indício de que elas realmente acontecerão é dado. É algo que também nos é dado para refletir. Nós mesmos nos esforçamos para mudar?


Fonte: http://www.dramafilmes.com.br

Churras


“DEu não quero voltar para a faculdade. Não tenho talento para nada. Mas em poucos anos, tu vai ver, eu vou ter muita grana. Vou comprar um carro e um apartamento, vou conhecer o mundo. Tu não pensa em coisas assim?”



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Tom

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