domingo, 5 de novembro de 2006

Resenha Crítica - APENAS UM BEIJO

Fonte das fotos: http://www.aefondkissmovie.co.uk

Título: Apenas Um Beijo
Título Original: Ae Fond Kiss

País de Origem: Alemanha, Espanha, França, Itália, Reino Unido
Produção: Rebecca O'Brien
Distribuição: Tornasol Films, Bianca Film, Glasgow Film Office, Matador Pictures, Cinéart, Sixteen Films, Scittish Screen Lottery Funded, Castle Hill Productions / Filmes do Estação (Brasil)
Diretor: Ken Loach
Roteiro: Paul Laverty
Data de estréia: 2004
Estréia no Brasil: 2006



Elenco:
Atta Yaqub (Casim Khan)
Eva Birthistle (Roisin Hanlon)

Shamshad Akhtar (Sadia Khan)
Shabana Bakhsh (Tahara Khan)
Ghizala Avan (Rukhsana Khan)
Ahmad Riaz (Tariq Khan)



Fonte: http://www.aefondkissmovie.co.uk

Atta Yaqub


O que pode acontecer quando você se apaixona por alguém tão diferente do que lhe é "esperado" que todo o mundo à sua volta pode se desmoronar por conta deste relacionamento? Você iria tão longe? Insistiria? Esta é uma questão, na realidade, muito profunda e é este o questionamento que Ken Loach, com seu "Apenas Um Beijo" faz todo o tempo da película.


Tudo começa com o jovem Casim. Por si só, ele já leva uma espécie de vida dupla. Em casa, fala punjabi e concordou em seguir a tradição muçulmana e se casar com uma prima, que se direciona do Paquistão para Glasgow. Mas fora, é um dj de sucesso e sonha em ter a sua própria casa de shows, tendo até mesmo comprado o local perfeito. Tudo isso muda no momento em que ele conhece Roisin.


Roisin é órfã, loura, católica e irlandesa, professora de música numa escola católica. Por acaso, ela ensina a irmã de Casim, Tahara, uma adolescente idealista e talvez a personagem mais centrada e consciente de si em todo o filme.


Casim e Roisin se conhecem, se apaixonam e acabam por ir morar juntos. É aí que começam todas as dificuldades. A família de Casim entra em desgraça perante a comunidade muçulmana (sua irmã perde o noivo, por exemplo, e chega a implorar para Roisin que ela desista de Casim) e as portas sociais se fecham a todos, trazendo a vergonha. Para o lado de Roisin, ela começa a ser perseguida por um padre fanático, que se ameaça comprometer a sua carreira na escola caso ela não desista do rapaz e "comece a levar uma vida cristã".


Por outro lado, o próprio casal tem seus conflitos, quando nenhum dos dois cede para o outro em qualquer momento. Mas a teimosia de ambos parece ser aquilo que mais os une, embora seja uma união ingênua demais para ser dado algum crédito. Eles por vezes parecem não acreditar no que acontece à sua volta... mas eles estão no Reino Unido, e um deles é descendente de paquistaneses. Eles não deveriam esperar por este tipo de situação?


Mas nem tudo são espinhos para Roisin e Casim. Tahara apóia a união do casal, embora entre sempre em conflito com a própria dubiedade de Casim - ao mesmo tempo em que ele luta para que sua decisão de ficar com Roisin seja respeitada, ele reprova a decisão de Tahara de estudar fora do país, pois "o lugar de uma mulher é dentro de casa". Também há o sócio e melhor amigo de Casim, também DJ, que sempre o aconselha, pois passou pela mesma situação - e teve que fugir para ficar junto com a sua namorada.


Fonte: http://www.aefondkissmovie.co.uk

Eva Birthistle


O filme é cheio de detalhes curiosos, e nunca apresenta um vilão, o que se torna inteligente, e uma alternativa ao maniqueísmo quase dominante nas peículas estadunidenses. É muito difícil tomar partido, quando se vê todas as conseqüências que seus atos trazem, não apenas a si mesmo, mas aos seus entes mais queridos. Como não pensar nas palavras de um pai desesperado, a implorar a seu filho "não estou pedindo que a ame, estou pedindo que seja razoável. Para que trocar alguém que ficará com você pra sempre por alguém que amanhã pode não te amar mais?"


É na tecla do preconceito que Ken Loach e o roteirista Paul Laverty batem mais. Não que não seja importante - o é -, mas o filme se mostra cansativo ao mostrar apenas as agruras pelas quais a família de Casim é obrigada a passar num país intolerante omo a Irlanda. Tomando como exemplos três cenas: a inicial, onde Tahara mostra para toda a sua classe, como um trabalho escolar, que se "recusa a aceitar o esterótipo de muçulmana, sendo uma mistura de influências variadas" - atitude esta que lhe valerá uma dor-de-cabeça por parte de outros alunos mal-intencionados; outra onde a placa do mercadinho do pai de Casim serve como poste para que cachorros de "verdadeiros irlandeses" possam fazer suas necessidades e a terceira, talvez a pior por sua leveza, seja um leve interlúdio onde Roisin toca a bela "Strange Fruit" de Billie Holiday para seus alunos, apresentando junto slides das barbaridades cometidas contra negros no sul estadunidense - a reação do alunado é quase de tédio, como se o problema não estivesse também em suas portas. E ela dá esta aula justamente após Casim tê-la dispensado por ser conivente como abuso e a infâmia que seguiram sua família por todos estes anos. Mesmo sendo cenas de certo modo importantes, tornam-se chatas porque mostram aquilo que todos já sabem, e são enfáticos no mesmo ponto.


O roteiro traz personagens tão "esquemáticos" que o trabalho de torná-los dríveis cabe realmente a seus atores. E os principais não fazem feio. Eva Birthistle e Atta Yaqub mostram-se competentes e têm boa química em cena, além de uma visível paixão pelo ofício da atuação. Especialmente Atta, que nunca havia trabalhado com atuação antes.


A saída mais inteligente foi não permitir que o filme acabasse com "o fim". Tudo acontece, de certa maneira, muito rápido, o que acaba por nos fazer pensar se eles ficarão mesmo juntos. O diálogo final, embora cheio de ironias e de uma certa promessa, não garante um final realmente feliz, como os romances dos dias de hoje.


Fonte: http://www.aefondkissmovie.co.uk

Atta Yaqub e Eva Birthistle


“Definitely...”



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Tom